Dez conselhos para viver a religião:
1. Religue-se. Evite o solipsismo, o individualismo, a solidão nefasta. Religue-se ao mais profundo de si mesmo, lá onde se cultivam os bens infinitos; à natureza, da qual somos todos expressão e consciência; ao próximo, de quem inevitavelmente dependemos; a Deus, que nos ama incondicionalmente. Isto é religião, re-ligar.
2. Tenha presente que as religiões surgiram na história da humanidade há cerca de oito mil anos. A espiritualidade, porém, é tão antiga quanto a própria humanidade. Ela é o fundamento de toda religião, assim como o amor em relação à família. Busque na sua religião aprimorar a sua espiritualidade. Desconfie de religião que não cultiva a espiritualidade e prioriza dogmas, preceitos, mandamentos, hierarquias e leis.
3. Verifique se a sua religião está centrada no dom maior de Deus: a vida. Religião centrada na autoridade, na doutrina, na ideia de pecado, na predestinação, é ópio do povo. “Vim para que todos tenham vida e vida em abundância”, disse Jesus (João 10,10). Portanto, a religião não pode manter-se indiferente a tudo que impede ou ameaça a vida: opressão, exclusão, submissão, discriminação, desqualificação de quem não abraça o mesmo credo.
4. Engaje-se numa comunidade religiosa comprometida com o aprimoramento da espiritualidade. Religião é comunhão. E imprima à sua comunidade caráter social: combate à miséria; solidariedade aos pobres e injustiçados; defesa intransigente da vida; denúncia das estruturas de morte; anúncio de um “outro mundo possível”, mais justo e livre, onde todos possam viver com dignidade e felicidade.
5. Interiorize sua experiência religiosa. Transforme o seu crer no seu fazer. Reduza a contradição entre a sua oração e a sua ação. Faça pelos outros o que gostaria que fizessem por você. Ame assim como Deus nos ama: incondicionalmente.
6. Ore. Religião sem oração é cardápio sem alimento. Reserve um momento de seu dia para encontrar-se com Deus no mais íntimo de si mesmo. Medite. Deixe o Espírito divino lapidar o seu espírito, desatar os seus nós interiores, dilatar sua capacidade amorosa.
7. Seja tolerante com as outras religiões, assim como gostaria que fossem com a sua. Livre-se de qualquer tendência fundamentalista de quem se julga dono da verdade e melhor intérprete da vontade de Deus. Procure dialogar com aqueles que manifestam crenças diferentes da sua. Quem ama não é intolerante.
8. Lembre-se: Deus não tem religião. Nós é que, ao institucionalizar diferentes experiências espirituais, criamos as religiões. Todas elas estão inseridas neste mundo em que vivemos e mantêm com ele uma intrínseca interrelação. Toda religião desempenha, na sociedade em que se insere, um papel político, seja legitimando injustiças, ao se manter indiferente a elas, seja ao denunciá-las profeticamente em nome do princípio de que somos todos filhos e filhas de Deus. Portanto, temos o direito de fazer da humanidade uma família.
9. A árvore se conhece pelos frutos. Avalie se a sua religião é amorosa ou excludente, semeadora de bênçãos ou arauto do inferno, serva do projeto de Deus na história humana ou do poder do dinheiro.
10. Deus é amor. Religião que não conduz ao amor não é coisa de Deus. Mais importante que ter fé, abraçar uma religião, frequentar templos, é amar. “Ainda que eu tivesse fé capaz de transportar montanhas, se não tivesse o amor isso de nada me serviria”, disse o apóstolo Paulo (1 Coríntios 13, 2). Mais vale um ateu que ama que um crente que odeia, discrimina e oprime. O amor é a raiz e o fruto de toda verdadeira religião; e a experiência de Deus, de toda autêntica fé.
* Escritor
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
Procuro a rua
que ainda me resta:
É longa, é alta,
não é essa.
que ainda me resta:
É longa, é alta,
não é essa.
Esqueço o nome,
por sono ou pressa:
é alta, é clara,
mas não é esta.
por sono ou pressa:
é alta, é clara,
mas não é esta.
Em cada esquina
havia uma festa:
é clara, é vasta,
não é essa.
havia uma festa:
é clara, é vasta,
não é essa.
Nunca me lembro
onde começa:
é vasta, é longa,
mas não é esta.
onde começa:
é vasta, é longa,
mas não é esta.
Rua que não
se manifesta:
é longa, é alta,
não é essa.
se manifesta:
é longa, é alta,
não é essa.
Cecília Meireles
domingo, 24 de outubro de 2010
Que mistério tem Clarice...

Minha amiga Áurea me deu o livro de presente no iníco do ano e não desgrudei o olho da leitura, do início ao fim. Relembrei a intensidade que ler Clarice Lispector sempre teve para mim desde o primeiro contato que tive com sua obra.
Me lembro do impacto que tive quando, aos 17 anos, li Perto do Coração Selvagem. Chegou a mim via uma colega do Colegial, que me emprestou pra que eu lesse e pudesse comentar com ela certas passagens que ela não sabia se tinha entendido... E assim ficamos imersas naquela literatura impressionante, que continha uma verdade muito além da nossa compreensão do momento, mas que a gente pressentia, e por isso se encantava.
Eu queria decifrar a Clarice, compreender aquele mistério da alma humana, aquela profundidade que ela conseguia tocar. Vieram os outros livros, Felicidade Clandestina,
"Escrevi livros que fizeram muitas pessoas me amar de longe", ela disse. Assim foi.
A biografia escrita pelo Benjamin Moser é maravilhosa. Acrescenta muitos fatos novos e importantes ao que já se sabia de Clarice Lispector. Essa entrevista dele é bem interessante e também o documentário com a última entrevista dela, poucos dias antes de morrer. Vale a pena.
A biografia escrita pelo Benjamin Moser é maravilhosa. Acrescenta muitos fatos novos e importantes ao que já se sabia de Clarice Lispector. Essa entrevista dele é bem interessante e também o documentário com a última entrevista dela, poucos dias antes de morrer. Vale a pena.
sábado, 23 de outubro de 2010
É preciso não esquecer nada

É preciso não esquecer nada:
nem a torneira aberta nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.
É preciso não esquecer de ver a nova borboleta
nem o céu de sempre.
O que é preciso é esquecer o nosso rosto,
o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.
O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos,
a idéia de recompensa e de glória.
O que é preciso é ser como se já não fôssemos,
vigiados pelos próprios olhos
severos conosco, pois o resto não nos pertence.
Cecília Meireles
domingo, 25 de julho de 2010
Karlfried Graf Durckheim

É a sua rara síntese de psicoterapia (C.G. Jung), sabedoria oriental (Zen Budismo) e Cristandade (Meister Eckhart) que resulta numa expressão única, inconfundível. Grande terapeuta, influência decisiva na vida e no ensinamento de Jean-Yves Léloup, segundo ele próprio.
Veja o belo video com Durckheim abaixo.
“Cada um dos dilemas fundamentais da vida vem marcado com seu próprio poder salvador. Cada angústia recorrente, cada anseio e esperança encontrarão seu devido auxílio e auxiliar. O mestre é um desses auxiliares.”
“Desde sempre, arrastadas pelo desespero, as pessoas são levadas a buscar o conselho e a ajuda que sua própria natureza verdadeira pede. Elas mesmas constroem os ajudantes que precisam, simplesmente porque estão sofrendo e buscando tão intensamente. Elas recebem a resposta ou orientação cheia de maestria a partir de outros que, em si mesmos, de forma alguma são mestres.”
“Se olharmos para o Ser como a única realidade e para nós mesmos como prisioneiros do mundo, então a única maneira de nos realizarmos plenamente e de retornar à realidade última será deixar esse mundo completamente para trás, morrer, e assim entrar finalmente na realidade do Ser que é o Todo e que é Um.”
“Mas, se olharmos a Vida como algo que transcende a antítese Ser Supremo versus realidade mundana, e encararmos a manifestação do Absoluto no mundano como sendo o nosso real objetivo, então vamos poder realizar-nos plenamente, testemunhando-O na nossa maneira de viver, aprender e agir no mundo.”
Texto traduzido do blog http://www.stillnessspeaks.com/ssblog/karlfried_graf_durckheim/ .
sábado, 27 de março de 2010
Milonga de Los Morenos, Borges, Ramil, Caetano...
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Alta la voz y animosa
como si cantara flor,
hoy, caballeros, le canto
a la gente de color.
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Marfil negro los llamaban
los ingleses y holandeses
que aquí los desembarcaron
al cabo de largos meses.
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En el barrio de Retiro
hubo mercado de esclavos;
de buena disposición
y muchos salieron bravos.
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De su tierra de leones
se olvidaron como niños
y aquí los aquerenciaron
la costumbre y los cariños.
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Cuando la patria nació
una mañana de Mayo,
el gaucho sólo sabía
hacer la guerra a caballo.
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Alguien pensó que los negros
no eran ni zurdos ni ajenos
y se formó el Regimiento
de Pardos y de Morenos.
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El sufrido regimiento
que llevó el número seis
y del que dijo Ascasubi:
"Más bravo que gallo inglés".
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Y así fue que en la otra banda esa morenada, al grito de Soler,
atropelló en la carga del Cerrito.
Martín Fierro mató a un negro y es casi como si hubiera
matado a todos. Sé de uno que murió por la bandera.
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De tarde en tarde en el Sur
me mira un rostro moreno,
trabajado por los años
y a la vez triste y sereno.
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¿A qué cielo de tambores
y siestas largas se han ido?
Se los ha llevado el tiempo,
el tiempo, que es el olvido.
sábado, 20 de fevereiro de 2010
A Felicidade...

Neste vídeo muito interessante, Matthieu Ricard, monge budista que já foi considerado "a pessoa mais feliz do mundo"(!?) dá as últimas sobre Felicidade. (Dá pra assistir com legendas em Português, é só selecionar):
terça-feira, 16 de fevereiro de 2010
segunda-feira, 4 de janeiro de 2010
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