domingo, 24 de outubro de 2010

Que mistério tem Clarice...

Benjamim Moser, o jovem biógrafo americano de Clarice Lispector, vai estar aqui em Porto Alegre, autografando seu livro CLARICE, na Feira do Livro.

Minha amiga Áurea me deu o livro de presente no iníco do ano e não desgrudei o olho da leitura, do início ao fim. Relembrei a intensidade que ler Clarice Lispector sempre teve para mim desde o primeiro contato que tive com sua obra.

Me lembro do impacto que tive quando, aos 17 anos, li Perto do Coração Selvagem. Chegou a mim via uma colega do Colegial, que me emprestou pra que eu lesse e pudesse comentar com ela certas passagens que ela não sabia se tinha entendido... E assim ficamos imersas naquela literatura impressionante, que continha uma verdade muito além da nossa compreensão do momento, mas que a gente pressentia, e por isso se encantava.

Eu queria decifrar a Clarice, compreender aquele mistério da alma humana, aquela profundidade que ela conseguia tocar. Vieram os outros livros, Felicidade Clandestina, A Paixão segundo GH... especialmente esses dois: não fui a mesma depois de tê-los lido.

"Escrevi livros que fizeram muitas pessoas me amar de longe", ela disse. Assim foi.

A biografia escrita pelo Benjamin Moser é maravilhosa. Acrescenta muitos fatos novos e importantes ao que já se sabia de Clarice Lispector. Essa entrevista dele é bem interessante e também o documentário com a última entrevista dela, poucos dias antes de morrer. Vale a pena.



sábado, 23 de outubro de 2010

É preciso não esquecer nada


É preciso não esquecer nada:
nem a torneira aberta nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.

É preciso não esquecer de ver a nova borboleta
nem o céu de sempre.

O que é preciso é esquecer o nosso rosto,
o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.

O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos,
a idéia de recompensa e de glória.

O que é preciso é ser como se já não fôssemos,
vigiados pelos próprios olhos
severos conosco, pois o resto não nos pertence.

Cecília Meireles