segunda-feira, 21 de dezembro de 2009


Chega um dia em que você aprende a diferença,
a sutil diferença,
entre dar a mão e acorrentar uma alma.
E aprende
que amar não significa apoiar-se
e que companhia nem sempre significa segurança.


E começa a aprender
que beijos não são contratos, e
presentes não são promessas.


E começa a aceitar suas derrotas
com a cabeça erguida e olhos adiante,
com a graça da Mulher, não com a tristeza da Criança.

E aprende
a construir todas as suas estradas no hoje,
porque o chão do amanhã é
incerto demais para planos
e futuros costumam cair
a meio vôo.


Chega um dia em que se aprende
que até mesmo o sol,
quando demais, queima.



E aí você planta seu próprio jardim
e embeleza sua alma,
em vez de esperar que alguém traga flores.


E você aprende que realmente consegue suportar,
que realmente é forte,
realmente tem valor
e aprende
e aprende
com cada adeus, você aprende...

Veronica A. Shoffstall

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Hehe.....


Autobiografia em Cinco Capítulos

Capítulo 1
Vou andando pela rua. Há um grande buraco na calçada. Caio. Estou perdido. Não sei o que fazer. Não é culpa minha. Demoro séculos para encontrar a saída.

Capítulo 2
Caminho pela mesma rua. Há um grande buraco na calçada. Finjo que não o vejo. Volto a cair. Não posso acreditar que tenha caído no mesmo lugar. Mas não é culpa minha. Levo bastante tempo a sair.

Capítulo 3
Ando pela mesma rua. Há um grande buraco na calçada. Está ali. Caio. É um hábito, mas tenho os olhos bem abertos. É um hábito, mas tenho os olhos bem abertos. Sei onde estou. É culpa minha. Saio rapidamente.

Capítulo 4
Vou pela mesma rua. Há um grande buraco na calçada. Dou a volta.

Capítulo 5
Caminho por outra rua.
.

domingo, 4 de outubro de 2009

Mercedes Sosa (1935-2009)

.,,

Merdedes Sosa viveu uma vida plena e agora se foi ... Assim como para muitos, a voz dela vai ficar sempre no meu coração.

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sexta-feira, 25 de setembro de 2009


Nossa Senhora do Silêncio...
(...assim Fernando Pessoa chamava a Lua)
..
.
Fiquei sabendo disso outro dia, assistindo no Canal Brasil ao documentário (maravilhoso!) Maria Bethânia: Pedrinha de Aruanda.
.
Lá pelas tantas do filme, a caminho de Santo Amaro de carro, tem um diálogo entre ela e Caetano Veloso (ele dirige) e ela pergunta: "você sabe como Fernando Pessoa chamava a lua?" e ele, meio brincando: "ah!, ele não chamava de lua, não? (risos)"... e a resposta: "sim, mas também às vezes de Nossa Senhora do Silêncio".
Achei o máximo.

domingo, 6 de setembro de 2009

Velhas máquinas & possibilidade de Violetas

Prefiro as máquinas que servem para não funcionar:
quando cheias de areia de formiga e musgo - elas
podem um dia milagrar de flores.

(Os objetos sem função têm muito apego pelo abandono.)

Também as latrinas desprezadas que servem para ter
grilos dentro - elas podem milagrar violetas.

(Eu sou beato em violetas.)

Todas as coisas apropriadas ao abandono me religam
a Deus.
Senhor, eu tenho orgulho do imprestável!

(O abandono me protege)

poema de Manoel de Barros, no LIVRO SOBRE NADA

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Não é uma pena ?

Lembrei essa do George Harrison, daquele primeiro álbum dele sozinho , ALL THINGS MUST PASS... e descobri essa versão do Cowboy Junkies.

Isn't it a Pity?

Isn't it a pity? Now, isn't it a shame? How we break each other's hearts and cause each other pain? How we take each other's love, without thinking anymore? Forgetting to give back...Isn't it a pity?

Some things take so long, but how do I explain? When not too many people can see we're all the same... And because of all their tears, their eyes can't hope to see the beauty that surrounds them...Isn't it a pity?

Isn't it a pity? Isn't is a shame? How we break each other's hearts and cause each other pain? How we take each other's love, without thinking anymore? Forgetting to give back...Isn't it a pity?

Forgetting to give back... Now, isn't it a pity?

segunda-feira, 27 de julho de 2009

terça-feira, 30 de junho de 2009

Haverá Paraíso?


Paradeiro

Arnaldo Antunes


Haverá paradeiro para o nosso desejo

Dentro ou fora de um vício?

Uns preferem dinheiro,

Outros querem um passeio perto do precipício.

Haverá paraíso

Sem perder o juízo e sem morrer?

Haverá pára-raio

Para o nosso desmaio

Num momento preciso?

Uns vão de pára-quedas

Outros juntam moedas antes do prejuízo.

Num momento propício,

Haverá paradeiro para isso?

Haverá paradeiro

Para o nosso desejo

Dentro ou fora de nós?

segunda-feira, 29 de junho de 2009

História das Coisas


La Negra

Mercedes Sosa "Como la Cigarra"

Composición: María Elena Walsh.

Tantas veces me mataron,
tantas veces me morí,
sin embargo estoy aquí
resucitando.
Gracias doy a la desgracia
y a la mano con puñal,
porque me mató tan mal,
y seguí cantando.

Cantando al sol,
como la cigarra,
después de un año
bajo la tierra,
igual que sobreviviente
que vuelve de la guerra.

Tantas veces me borraron,
tantas desaparecí,
a mi propio entierro fui,
solo y llorando.
Hice un nudo del pañuelo,
pero me olvidé después
que no era la única vez
y seguí cantando.

Cantando al sol,
como la cigarra,
después de un año
bajo la tierra,
igual que sobreviviente
que vuelve de la guerra.

Tantas veces te mataron,
tantas resucitarás
cuántas noches pasarás
desesperando.
Y a la hora del naufragio
y a la de la oscuridad
alguien te rescatará,
para ir cantando.

Cantando al sol,
como la cigarra,
después de un año
bajo la tierra,
igual que sobreviviente
que vuelve de la guerra.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Manuelzinho-da-Crôa, passarim do Rosa

Sempre quis saber que jeito tinha o manuelzinho-da crôa, passarinho do Grande Sertão. Em tempos de Google, foi fácil achar a imagem. Reproduzo abaixo a pasagem em que Riobaldo, jagunço, pronto para a caça, passa a olhar com outros olhos os passarinhos... graças a Reinaldo/Diadorim.


“O rio, objeto assim a gente observou, com uma crôa de areia amarela, e uma praia larga: manhã-zando, ali estava re-cheio em instância de pássaros. O Reinaldo mesmo chamou minha atenção. O comum: essas garças, enfileirantes, de toda brancura; o jaburu; o pato-verde, o pato-preto, topetudo; marrequinhos dançantes; martim-pescador; mergulhão; e até uns urubus, com aquele triste preto que mancha.

Mas, melhor de todos – conforme o Reinaldo disse – o que é o passarim mais bonito e engraçadinho de rio-abaixo e rio-acima: o que se chama o manuelzinho-da-crôa. Até aquela ocasião, eu nunca tinha ouvido dizer de se parar apreciando, por prazer de enfeite, a vida mera deles pássaros, em seu começar e descomeçar dos vôos e pousação. Aquilo era pra se pegar a espingarda e caçar. Mas o Reinaldo gostava: - “É formoso próprio...” – ele ensinou.

Do outro lado, tinha vargem e lagoas. P’ra e p’ra, os bandos de patos se cruzavam. – “Vigia como são esses...” Eu olhava e me sossegava mais. O sol dava dentro do rio, as ilhas estando claras – “É aquele lá: lindo!” Era o manoelzinho-da-crôa, sempre em casal, indo por cima da areia lisa; eles altas perninhas vermelhas, esteiadas muito atrás traseiras, desempinadinhos, peitudos, escrupuosos catando suas coisinhas para comer alimentação. Machozinho e fêmea – às vezes davam beijos de biquinquim – a galinholagem deles. – “É preciso olhar para esses com um todo carinho...” Reinaldo disse. Era.... De todos, o pássaro mais bonito gentil que existe é mesmo o manuelzinho-da-crôa.”

João Guimarães Rosa. "Grande Sertão:Veredas".

domingo, 7 de junho de 2009

Cabelos, Lou Salomé


"...Não dou a mínima para dicas que se avolumam na farmácia, contraditórias, pelosas, sobre a elasticidade de meus fios. Minha juventude não esteve nos cabelos. Eles passaram como os de Leopoldina, enfeixados em um laço no Museu do Ipiranga. Que puderam ser os cabelos, meu deus, diante de uma descoberta poética? Lembro-me da foto de Lou Salomé brincando de chicotear os eternos apaixonados filósofos Paul Ree e Friedrich Nietzsche. Poeta, psicanalista, ela disse aquilo em que acredito: Primeiro vivemos a juventude, depois a juventude vive em nós. Sou mais jovem quando leio do que quando tinturo."


Rosane Pavan

leia o texto inteiro em:



Domingo no Parque, 1972

Acho que estou cantando. Alegria, alegria!

sábado, 6 de junho de 2009

quinta-feira, 4 de junho de 2009

"Os Reis Vagabundos", 1982

DESAMPARO
Cecíllia Meireles


Digo-te que podes ficar de olhos fechados sobre o meu peito,
porque uma ondulação maternal de onda eterna
te levará na exata direção do mundo humano.
Mas no equilíbrio do silêncio,
no tempo sem cor e sem número,
pergunta a mim mesma o lábio do meu pensamento:
quem é que me leva a mim,
que peito nutre a duração desta presença,
que música embala a minha música que te embala,
a que oceano se prende e desprende
a onda da minha vida, em que estás como rosa ou barco...?

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Para Pedro Wayne, em memória















ESTIRPE
Cecília Meirelles

Os mendigos maiores não dizem mais, nem fazem nada.
Sabem que é inútil e exaustivo. Deixam-se estar. Deixam-se estar.
Deixam-se estar ao sol e à chuva com o mesmo ar de completa coragem,
longe do corpo que fica em qualquer lugar.

Entretêm-se a entender a vida pelo pensamento.
Se alguém falar, sua voz foge como um pássaro que cai.
E é de tal modo imprevista, desnecessária e surpreendente
que, para a ouvirem bem, talvez gemessem algum ai.

Oh! não gemiam, não... Os mendigos maiores são todos estóicos.
Puseram sua miséria junto aos jardins do mundo feliz
mas não querem que, do outro lado, tenham notícia da estranha sorte
que anda por eles como um rio num país.

Os mendigos maiores vivem fora da vida: fizeram-se excluídos.
Abriram sonos e silêncios e espaços nus, em redor de si.
Têm seu reino vazio, de altas estrelas que não cobiçam.
Seu olhar não olha mais, e sua boca não chama nem ri.

E seu corpo não sofre nem goza. E sua mão não toma nem pede.
E seu coração é uma coisa que, se existiu, já se esqueceu.
Ah! os mendigos maiores são um povo que se vai convertendo em pedra.
Esse povo é que é o meu.