terça-feira, 30 de junho de 2009

Haverá Paraíso?


Paradeiro

Arnaldo Antunes


Haverá paradeiro para o nosso desejo

Dentro ou fora de um vício?

Uns preferem dinheiro,

Outros querem um passeio perto do precipício.

Haverá paraíso

Sem perder o juízo e sem morrer?

Haverá pára-raio

Para o nosso desmaio

Num momento preciso?

Uns vão de pára-quedas

Outros juntam moedas antes do prejuízo.

Num momento propício,

Haverá paradeiro para isso?

Haverá paradeiro

Para o nosso desejo

Dentro ou fora de nós?

segunda-feira, 29 de junho de 2009

História das Coisas


La Negra

Mercedes Sosa "Como la Cigarra"

Composición: María Elena Walsh.

Tantas veces me mataron,
tantas veces me morí,
sin embargo estoy aquí
resucitando.
Gracias doy a la desgracia
y a la mano con puñal,
porque me mató tan mal,
y seguí cantando.

Cantando al sol,
como la cigarra,
después de un año
bajo la tierra,
igual que sobreviviente
que vuelve de la guerra.

Tantas veces me borraron,
tantas desaparecí,
a mi propio entierro fui,
solo y llorando.
Hice un nudo del pañuelo,
pero me olvidé después
que no era la única vez
y seguí cantando.

Cantando al sol,
como la cigarra,
después de un año
bajo la tierra,
igual que sobreviviente
que vuelve de la guerra.

Tantas veces te mataron,
tantas resucitarás
cuántas noches pasarás
desesperando.
Y a la hora del naufragio
y a la de la oscuridad
alguien te rescatará,
para ir cantando.

Cantando al sol,
como la cigarra,
después de un año
bajo la tierra,
igual que sobreviviente
que vuelve de la guerra.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Manuelzinho-da-Crôa, passarim do Rosa

Sempre quis saber que jeito tinha o manuelzinho-da crôa, passarinho do Grande Sertão. Em tempos de Google, foi fácil achar a imagem. Reproduzo abaixo a pasagem em que Riobaldo, jagunço, pronto para a caça, passa a olhar com outros olhos os passarinhos... graças a Reinaldo/Diadorim.


“O rio, objeto assim a gente observou, com uma crôa de areia amarela, e uma praia larga: manhã-zando, ali estava re-cheio em instância de pássaros. O Reinaldo mesmo chamou minha atenção. O comum: essas garças, enfileirantes, de toda brancura; o jaburu; o pato-verde, o pato-preto, topetudo; marrequinhos dançantes; martim-pescador; mergulhão; e até uns urubus, com aquele triste preto que mancha.

Mas, melhor de todos – conforme o Reinaldo disse – o que é o passarim mais bonito e engraçadinho de rio-abaixo e rio-acima: o que se chama o manuelzinho-da-crôa. Até aquela ocasião, eu nunca tinha ouvido dizer de se parar apreciando, por prazer de enfeite, a vida mera deles pássaros, em seu começar e descomeçar dos vôos e pousação. Aquilo era pra se pegar a espingarda e caçar. Mas o Reinaldo gostava: - “É formoso próprio...” – ele ensinou.

Do outro lado, tinha vargem e lagoas. P’ra e p’ra, os bandos de patos se cruzavam. – “Vigia como são esses...” Eu olhava e me sossegava mais. O sol dava dentro do rio, as ilhas estando claras – “É aquele lá: lindo!” Era o manoelzinho-da-crôa, sempre em casal, indo por cima da areia lisa; eles altas perninhas vermelhas, esteiadas muito atrás traseiras, desempinadinhos, peitudos, escrupuosos catando suas coisinhas para comer alimentação. Machozinho e fêmea – às vezes davam beijos de biquinquim – a galinholagem deles. – “É preciso olhar para esses com um todo carinho...” Reinaldo disse. Era.... De todos, o pássaro mais bonito gentil que existe é mesmo o manuelzinho-da-crôa.”

João Guimarães Rosa. "Grande Sertão:Veredas".

domingo, 7 de junho de 2009

Cabelos, Lou Salomé


"...Não dou a mínima para dicas que se avolumam na farmácia, contraditórias, pelosas, sobre a elasticidade de meus fios. Minha juventude não esteve nos cabelos. Eles passaram como os de Leopoldina, enfeixados em um laço no Museu do Ipiranga. Que puderam ser os cabelos, meu deus, diante de uma descoberta poética? Lembro-me da foto de Lou Salomé brincando de chicotear os eternos apaixonados filósofos Paul Ree e Friedrich Nietzsche. Poeta, psicanalista, ela disse aquilo em que acredito: Primeiro vivemos a juventude, depois a juventude vive em nós. Sou mais jovem quando leio do que quando tinturo."


Rosane Pavan

leia o texto inteiro em:



Domingo no Parque, 1972

Acho que estou cantando. Alegria, alegria!

sábado, 6 de junho de 2009

quinta-feira, 4 de junho de 2009

"Os Reis Vagabundos", 1982

DESAMPARO
Cecíllia Meireles


Digo-te que podes ficar de olhos fechados sobre o meu peito,
porque uma ondulação maternal de onda eterna
te levará na exata direção do mundo humano.
Mas no equilíbrio do silêncio,
no tempo sem cor e sem número,
pergunta a mim mesma o lábio do meu pensamento:
quem é que me leva a mim,
que peito nutre a duração desta presença,
que música embala a minha música que te embala,
a que oceano se prende e desprende
a onda da minha vida, em que estás como rosa ou barco...?